Sobre dar peixes ou ensinar a pescar

Desde o momento em que um (a) empreendedor (a) decide pelo crescimento de sua empresa, e veja que eu disse “decide”, portanto, estou considerando que essa pessoa já não está no doce campo dos sonhos e ideias, ela está partindo para a ação; ele (a) provavelmente logo reconhecerá que não conseguirá isso sem ajuda, não por muito tempo, já que será impossível fazer tudo sozinho (a) ou apenas com o apoio de quem tenha como sócio (a). Assim, tomará, de novo, uma decisão – terá que contratar colaboradores, no mínimo uma pessoa a mais no grupo, para auxiliar nas tarefas e principalmente para ajudar o negócio a crescer, sua decisão inicial.

Esse é um caminho conhecido, toda empresa que começou a crescer, certamente passou por ele; mas, será que todas elas, desde o início lembraram a intenção que tinham quando tomaram a segunda decisão? Explico – boa parte dos empreendedores (ras) após a contratação de colaboradores passa-lhes tarefas de modo informal, e muitas das vezes, sem critérios definidos, ou seja, sem que o novo cargo tenha sido pensado ou construído de acordo com um plano ou necessidade específica do negócio naquele momento; as atribuições vão sendo entregues à medida que as coisas vão acontecendo. O novo integrante vai se virando e/ou aprendendo a fazer do jeito que fazem seus superiores, e, aliás, aí dele se não o fizer assim...
Quase sempre, o que vem a seguir são as queixas por insatisfação com o desempenho do (a) recém-chegado (a); ou porque não faz “exatamente” como sua chefia (e como poderia, já que ele é outro? – não se iluda, igual a você somente você mesmo) ou porque não tem iniciativa, pergunta muito, não pensa. Mas, e quando ele tenta fazer diferente, é incentivado? Ou lhe pedem para tentar? Ou lhe devolvem as perguntas feitas? Enfim, ensinam-lhe a pensar por si próprio? Fazem uma pausa para dar clareza ao cargo criado e desse modo fazer também com que ele saiba o que se espera dele?

O colaborador (a) diz: como eu faço? E, de modo geral, alguém imediatamente responde – faça assim, ou assado. Sem sequer sondar se ele teria alguma idéia à respeito, sem buscar melhor conhecimento ou aproveitamento das habilidades que essa pessoa possa ter para oferecer. Porque não lhe ensinar a pensar, aproximar-se dele (a) e demonstrar que essa pessoa pode sim, aprender e descobrir respostas sozinho (a)? Isso, no mínimo, seria lembrar o principal motivo de sua presença ali no negócio: ajudá-lo a crescer.

Infelizmente, o que mais se assiste, são gestores tão ocupados na rotina diária, que não se dão conta, que ao contratarem pessoas sem dedicar um tempo de investimento ao acompanhamento e efetivo preparo das mesmas, estão, na verdade desperdiçando dinheiro e principalmente, talentos e habilidades, pois ao exigirem que seus contratados somente cumpram ordens fazendo tarefas de forma robotizada e repetindo falas tal como o chefe mandou, estão desmotivando o movimento de tentar e arriscar, condicionando a não pensar, estão, enfim, somente “dando peixes”.  
Sim, ensinar, incentivar a pensar, dá certo trabalho, é preciso ouvir, dizer uma vez, repetir outra e talvez mais outra, é preciso ainda, disposição para abrir mão da iludida busca da perfeição, aprender a não temer o erro, a ter tolerância pelo diferente, pelo questionamento, pela insegurança. É, porque essa outra pessoa, na maioria das vezes, terá condições de aprender, mas, sem dúvida, em parte, fará seu jeito, ainda que seja muitíssimo parecido com o que lhe seja solicitado, será num ritmo próprio e de forma pessoal; além de tudo, tenderá a questionar o modo como as coisas são feitas e estará exposta a errar, processo inevitável em todo aprendizado, que pede esforços de ambas as partes, mas que quase sempre resulta em lucros, em todos os sentidos.

No entanto, esse trabalho todo é o “ensinamento da pescaria”, e significa muito mais que treinar alguém para executar tarefas corretamente ou fazer valer seu salário, é a riqueza presente no bendito exercício de desenvolver um indivíduo, de facilitar que o outro aprenda e cresça, é a nobreza da humildade e da partilha de conhecimento. E isso é parte da genuína Gestão de Pessoas, e é, antes de tudo, o principal papel de quem escolhe e assume a verdadeira posição de Liderar.

Heloá Vitorino Consultoria em Gestão de Pessoas
Psicóloga e Consultora Empresarial

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